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Aguinaldo Silva explica 'Fina Estampa'


O pernambucano Aguinaldo Silva nunca havia pensado em ser dramaturgo. Os dez anos como editor das seções de polícia e cidade do jornal O Globo (1968 a 1978), porém, despertaram no jornalista uma vontade de escrever de maneira diferenciada sobre aquele universo. Foi assim que surgiu o seriado ‘Plantão de Polícia’, de 1979, marcando a estreia do autor na televisão e revelando um novo olhar sobre a sociedade e uma visão mais humanizada sobre quem estava à margem dela.
Alguns seriados depois, Aguinaldo escreveu a primeira minissérie da televisão brasileira, ‘Lampião e Maria Bonita’ (1982). Foi o início de uma série de trabalhos, como ‘Bandidos da Falange’(1983), ‘Padre Cícero’(1984) e ‘Riacho Doce’ (1990), que retratavam, de forma inédita, temas mais urbanos, regionalistas e religiosos.
A partir de 1984, o autor inicia uma trajetória de sucesso no horário nobre com suas tele novelas. Aguinaldo é o único autor cujas obras sempre foram exibidas nesta faixa. Conhecido também por trabalhar com o realismo fantástico, o pernambucano foi o criador de novelas como ‘Pedra sobre Pedra’(1992), ‘Fera Ferida’ (1993) e ‘A Indomada’ (1997). Em 2004, Aguinaldo Silva traz novamente à tona temas urbanos e populares com ‘Senhora do Destino’ e, em 2007, com ‘Duas Caras’.

Como você definiria a novela?
‘Fina Estampa’ é um folhetim clássico, com todas as características do gênero, só que modernizadas, adaptadas para a época em que vivemos. É uma novela com tramas fortes que se cruzam, de personagens muito reais e envolvidos com questões inerentes ao ser humano. É uma novela popular, urbana e profundamente brasileira.

O que a trama quer passar para o público?
A novela vai deixar uma pergunta no ar: o que vale mais nas pessoas, a aparência ou o caráter? Griselda é de um caráter inquestionável que percebe que está se transformando com o dinheiro. Num mundo onde o culto ao corpo e a beleza física é uma verdadeira mania, as tramas de “Fina Estampa”, de um modo ou outro, têm a árdua tarefa de questionar essa opção.

Por que ambientar a trama na Barra da Tijuca?
Sei que existe, na parte mais tradicional do Rio de Janeiro, certo distanciamento com o bairro. A Barra é mesmo bem diferente do resto da cidade, exceto na área do Jardim Oceânico, que é um bairro como outro qualquer. Eu quero mostrar que a Barra, com suas características sociais tão distintas, é tão carioca quanto qualquer outro bairro. E é muito bonita e atraente.

Griselda é um personagem muito peculiar e inusitado na televisão. Sua criação foi baseada em alguém da vida real?
Sim, como todos os meus personagens. Eu conheci uma mulher igual a ela, uma faz-tudo, no bairro de Santa Teresa, onde morei na década de 70. Ela era viúva, portuguesa como Griselda e um tanto masculinizada. Então, eu ficava pensando como seria se ela passasse por uma transformação que a fizesse voltar a se preocupar mais com a aparência. A personagem e sua história estavam no meu passado. Só tive que ir lá resgatá-las.

E o que você pode dizer sobre a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni)?
Gosto quando o vilão ou a vilã são mais humanizados. Tereza Cristina realmente achará que tem motivos para agir como age. Para ela, são atitudes justas e inquestionáveis. Isso a tornará mais humana, mais suave.

Na maioria das tramas de ‘Fina Estampa’, as relações de maternidade são muito fortes. Por que tratar desse assunto?
Para mim, a família é a base de tudo e, nesse tempo de crise de valores, é sempre nela que devemos buscar apoio. As relações de família – e dentro delas, as de maternidade – é que tornaram possível o progresso do homem e dão real valor à história humana. A origem da civilização está lá e eu sempre procuro mostrar isso em minhas obras.

Como a novela vai entrar na questão da violência doméstica através da história de Celeste (Dirá Paes)?
De um modo mais polêmico. Por que Celeste não denuncia Baltazar para a polícia? Isso, em casos de violência doméstica, é comum e é hora de se discutir por que, num mundo onde as mulheres já têm voz, isso ainda acontece. Por que determinadas mulheres, por questões emocionais, simplesmente não conseguem se livrar disso.